Maluf defende a idoneidade de Temer. Então, tá!
A tramitação da segunda denúncia da Procuradoria contra Michel Temer transcorre anormalmente como uma novela repetida. Para acordar a plateia entorpecida, o acaso enfia no enredo cenas simbólicas que valem por uma epifania. Como o discurso proferido por Paulo Maluf na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara em defesa da honestidade do presidente da República.
O país vive atrás do significado maior de qualquer coisa que resuma a época atual. No futuro, a historiografia talvez eleja a defesa apaixonada da honra de Temer por Maluf como um desses momentos que explicam o que se passou no Brasil quando o derretimento ético da política mudou o significado do vocábulo cidadão, que passou a ser definido nos dicionários assim: "Cidade muito grande, habitada por pessoas que, anestesiadas pela ruína moral, perderam o interesse pelo exercício da cidadania."
Maluf vem de uma condenação na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal a 7 anos, 9 meses e 10 dias de prisão por lavar dinheiro desviado de obras em São Paulo. Alheio à própria ficha corrida, o orador disse que Temer é "honesto". E tachou o ex-procurador-geral Rodrigo Janot, que denunciou o presidente, de "terrorista", um sujeito que difunde acusações "falsas" e "vazias" com o propósito deliberado de explodir a economia nacional.
Diante disso, não resta senão ecoar uma velha tese de Dostoiévski: se Deus não existe, tudo é permitido, dizia o gênio. Se Paulo Maluf é 'advogado' de Temer, extinguem-se sobre a Terra todas as dúvidas éticas e morais que rondam o presidente do Brasil. Suponha que uma alma distraída, que não está acompanhando a novela, lhe pergunte: "E aí, em que capítulo estamos?" Responda simplesmente: "O Maluf já passou pelo palco para informar que o Temer é honesto." E seu interlocutor dirá, sem titubeios: "Ah, bom! Então, tá!"
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