O velejador brasileiro que virou executivo do tráfico não esconde o passado
"Os velejadores brasileiros que estão presos em Cabo Verde, acusados de tráfico internacional de drogas, são inocentes". Quem diz isso é um especialista no assunto: o carioca Ronald Soares, primeiro navegador brasileiro a ter seu nome associado ao tráfico marítimo de drogas, 20 anos atrás.
Em fevereiro de 1999, depois de ter passado metade da vida morando num barco e velejado mundo afora sob o embalo de bem mais do que simples ventos, Ronald foi preso na Inglaterra, como um dos principais "executivos" do tráfico marítimo de drogas entre a Colômbia e a Europa.
Na ocasião, a prisão do brasileiro, que era conhecido na organização como "O Economista", porque sua principal função era lavar o dinheiro e transformar a droga que chegava a bordo de barcos particulares em lucrativos negócios, foi saudada como um duro golpe na organização criminosa, mas não chegou a desbaratá-la. Ele foi preso e assim ficou por 12 anos – metade numa prisão na Inglaterra, metade no Brasil, para onde foi extraditado, graças a um acordo entre os dois países.
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Caso do comandante desaparecido: surge um novo corpo no mar
Em 2012, graças ao bom comportamento que resultou na redução da pena original de 24 anos de reclusão, Ronald foi solto. Hoje, aos 67 anos, ele vive pacatamente num pequeno apartamento no Rio de Janeiro, onde ganha a vida vendendo cabos marítimos, e fala sem nenhum problema sobre o seu passado.
Tanto que, meia dúzia de anos atrás, ditou sua vida para o escritor Luiz Eduardo Soares, que a transformou no ótimo livro "Tudo ou Nada", que narra a fase mais intensa da vida do navegador que virou megatraficante.
Ronald foi o primeiro brasileiro a ter seu nome ligado a colossais quantidades de drogas traficadas pelo mar, muito antes de os três brasileiros que estão presos em Cabo Verde (o gaúcho Daniel Guerra, de 36 anos, e os baianos Rodrigo Dantas e Daniel Dantas, de 25 e 43 anos, respectivamente) serem acusados ("injustamente", segundo ele) de transportar mais de uma tonelada de cocaína num barco, do Brasil para a Europa, algo que eles sempre juraram completo desconhecimento (para entender este caso por completo, clique aqui).
Neste momento, os três brasileiros aguardam, presos, o julgamento de um recurso que visa cancelar o julgamento, em face as gritantes falhas no processo.
"Eu nunca enganei inocentes na época em que contratava barcos para o transporte de drogas, mas cansei de ver ´concorrentes´ transformarem ingênuos velejadores, como aqueles brasileiros, em mulas involuntárias do tráfico", diz Ronald, que fala sobre o assunto com pleno conhecimento e sem nenhum constrangimento.
Fiz uma grande besteira e paguei por ela", diz. "Injusto é alguém pagar pelo que não fez, como acho que é o caso daqueles rapazes". E completa: "Já cumpri minha pena e mudei radicalmente de vida, até porque não fiquei com um centavo do dinheirão que ganhei com as drogas", diz.
Quando foi preso, num hotel em Londres, numa ação digna de filme de aventura, com direito até a tentativa de fuga pelo telhado, a conta bancária de Ronald Soares, na Inglaterra, somava mais de 7 milhões de dólares. "Mas a Justiça inglesa ficou com tudo", recorda. "Hoje, todos os dias, vou trabalhar de ônibus, no Centro do Rio, e o que eu ganho mal dá para pagar as minhas contas", completa Ronald, que nunca mais se envolveu com drogas ("nem tenho mais dinheiro para isso", brinca).
Ex-hippie, ex-velejador, ex-milionário, ex-bon vivant e ex-presidiário, a vida intensa e alucinante do ex-"Economista do Tráfico" (clique aqui para conhecê-la), agora, pode virar filme, a exemplo do que já aconteceu com o também carioca João Guilherme Estrela, que se tornou o Rei do Tráfico na Zona Sul carioca nos anos de 1990, e inspirou o filme "Meu Nome Não É Johnny". A diferença é que, enquanto Estrela foi preso com míseros quilos de cocaína no seu apartamento", Ronald movimentou toneladas de drogas no mercado da Europa durante anos a fio.
"Muito mais do que se possa imaginar", diz ele, com a lucidez de quem sabe que errou feio e não tem vergonha de admitir isso publicamente.
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