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Leco vê Ceni com imagem arranhada no SP e fala do elenco para 2018

Leco está no segundo mandato como presidente do São Paulo - Ricardo Moreira/Fotoarena/Estadão Conteúdo
Leco está no segundo mandato como presidente do São Paulo Imagem: Ricardo Moreira/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo (SP)

23/09/2017 10h30

O presidente Carlos Augusto de Barros e Silva, de fato, não gostou da passagem de Rogério Ceni como técnico do São Paulo. Em entrevista publicada pelo site Chuteira FC, o mandatário do Tricolor afirmou ter dado todas as condições de trabalho para o Mito, mas que o ídolo entregou ao clube três eliminações e a zona de rebaixamento no Campeonato Brasileiro, além de ter saído com a imagem arranhada com a torcida. 

Leco também falou sobre o planejamento para 2018. O volante Jucilei, por exemplo, foi descartado pelo cartola, que considera muito difícil negociar um novo contrato com os chineses do Shandong Luneng. Já o zagueiro Rodrigo Caio e o meia Christian Cueva, alvos frequentes nas janelas de transferências, seguem nos planos do São Paulo, mesmo que tenham apresentado queda de rendimento nos últimos meses.

Além disso, o presidente explicou o imbróglio com a Under Armour. A marca americana de material esportivo tentou renegociar o contrato considerado alto com o São Paulo devido ao baixo resultado financeiro. O Tricolor não aceitou e exige que a multa para a rescisão do vínculo seja paga. Assim, o clube está livre para prospectar novos parceiros até outubro, quando a Under Armour poderá igualar uma eventual oferta. Caso contrário, a parceria será mantida até maio de 2018.

Nova terceira camisa do São Paulo foi lançada nesta semana - Divulgação - Divulgação
Nova terceira camisa do São Paulo foi lançada nesta semana
Imagem: Divulgação

Confira abaixo alguns trechos da entrevista de Leco:

Análise da gestão

Tenho absoluta certeza e convicção de que o meu São Paulo, e incluo aí também a primeira gestão de um ano e meio, está muito corretamente administrado. Em termos de finanças, de organização, de transparência, de tudo isso. Mas no fim é o futebol que diz tudo. Quando o futebol está em alta, o torcedor, que é a grande massa, não está nem aí se estou com R$ 200 milhões de dívida e não paguei o salário. Se o time for campeão então, está tudo ótimo. Se eu, que recebi o clube com R$ 170 milhões de dívida, fora as dívidas tributárias, e hoje já posso dizer que a reduzi para R$ 48 milhões em menos de dois anos de administração, for rebaixado estou morto politicamente. Meu objetivo é entregar o São Paulo sem dívida, e é uma meta absolutamente factível. Mas se entregar sem dívida e tiver sido rebaixado, estou morto. Tenho, mais do que o desejo, a confiança de que não vamos ser rebaixados. 

Arrependimento por ter contratado Ceni?

Não posso dizer que me arrependi, porque fiz de uma forma consciente e refletida, embora naquele primeiro momento questionasse se ele já estava em condições de assumir. Mas tantas e tão fortes foram as colocações dele de que estava pronto que eu me convenci, e fiz aquilo que acho que ninguém evitaria fazer, que era trazê-lo. Trouxemos, demos todas as condições, prestigiamos o projeto. Dei tudo e um pouco mais. Dei tudo e ainda dei o Pratto, que todo mundo queria. Infelizmente não deu certo.

Motivos para o fracasso

Ele não se ajustou à dinâmica da nova situação. Como jogador ele era o “Mito”, uma figura grande, com muitas conquistas, mas era uma situação muito diferente da de pegar um grupo e formar um time. Uma, duas, três eliminações… E zona de rebaixamento, porque foi com ele que fomos para a zona de rebaixamento. E como é duro de sair!

Uso de Ceni para ganhar a eleição, multa contestada e imagem arranhada

Tenham certeza de que isso não é verdade. Eu já tinha um ano e meio de mandato, já tinha uma referência, tinha me credenciado para isso. Já tinham visto o que eu tinha feito e do que era capaz. Poderia acontecer é o contrário, com três desclassificações ele poderia me fazer perder a eleição. A minha gestão é toda transparente, contrariando até o padrão do futebol. Nos últimos anos aqui no São Paulo não tinha a tal multa no contrato dos treinadores, mas em outros tempos era comum. O Mário Sérgio ficou dois meses no São Paulo e recebeu uma multa maior do que essa (R$ 5 milhões). O Rogério tinha medo de que, se eu perdesse a eleição, ele fosse mandado embora. Mais do que tudo, ele tinha medo de macular a sua imagem, do Mito, do grande Rogério. Coisa que acabou se modificando com essa gestão dele como técnico de futebol, porque o torcedor é emotivo e quer ganhar, no futebol nada é pior do que perder. Com os maus resultados aquela figura mítica foi de uma certa forma se embaçando, e me disseram, embora eu não tenha confirmado isso, que 70% dos são-paulinos achavam que ele não estava dando certo.

Rogério Ceni ficou no São Paulo de dezembro de 2016 a julho deste ano - Marcello Zambrana/Estadão Conteúdo - Marcello Zambrana/Estadão Conteúdo
Rogério Ceni ficou no São Paulo de dezembro de 2016 a julho deste ano
Imagem: Marcello Zambrana/Estadão Conteúdo

Processo de demissão

Não foi difícil, foi muito rápido, aconteceu em cinco minutos. Eu estava no Rio no jogo com o Flamengo, e já vinha acumulando observações e avaliações. Cheguei à conclusão de que deveria demiti-lo quando cheguei em casa, às 23h30. E aí o que fiz? Marquei no dia seguinte uma conversa com o (diretor-executivo de futebol Vinicius) Pinotti para dizer a ele o que eu tinha pensado. Sei que a deliberação é minha e que eu não preciso dar satisfação, mas eu queria ver se ele me convencia do contrário. E ele concordou. Chamamos o Rogério e em menos de cinco minutos tudo acabou. Falei com ele um tempo depois, mas foi muito pouco. É inegável que ficou um estremecimento, infelizmente. Ele não se conforma até hoje. O mais duro na demissão foi chegar à conclusão de que era preciso demiti-lo.
 
Planejamento para 2018 e Jucilei
 
O Jucilei… Gostaria muito de ficar com ele, mas é muito difícil. Não é fácil negociar com os chineses. Trouxemos o Petros, que é nosso. O Marcos Guilherme veio numa condição excepcional até o fim do ano que vem, com prioridade para o contratarmos. O Hernanes até o meio do ano que vem… Já dá um respiro.
 
Aposta na base
 
Vamos olhar muito para a base, posso garantir. E o Dorival já demonstrou que quer fazer isso. E na base temos uma contínua formação de boa qualidade. Temos esse menino Brenner, na Seleção Sub-17, temos um meia super bom no Sub-17, um lateral-esquerdo. E preste atenção: o Shaylon é muito bom jogador.
 
Rodrigo Caio
 
Na última janela houve proposta do Zenit pelo valor da multa, mas acabou não se concretizando. Para sair vai depender de ter uma boa proposta, e isso claro dependerá da sua performance. Acho que ele sofreu um certo abalo emocional pelo fato de o negócio com o Zenit não ter dado certo, e andou falhando em uns jogos de maneira incomum para ele. E não sei se isso pesou para ele não ter sido chamado na última convocação do Tite.
 
Cueva deve voltar ao time titular em clássico contra o Corinthians - Marcelo D. Sants/Estadão Conteúdo - Marcelo D. Sants/Estadão Conteúdo
Cueva deve voltar ao time titular em clássico contra o Corinthians
Imagem: Marcelo D. Sants/Estadão Conteúdo
 
Cueva
 
Ele já falou que quer sair, que quer ficar, declarou amor ao clube… O Cueva, como o ser humano em geral, é carente e precisa de colo e acolhimento. Mas às vezes também funciona alguma ação que o incomode, e certamente ele se incomodou com a reserva. Nos dois últimos jogos ele entrou e mostrou algo como “sou eu aqui”. É um grande jogador, tecnicamente acima da média. Não tenho medo de perdê-lo, mas pode ser que chegue uma proposta e ele diga “me vende ou não jogo mais”. Ele é bem capaz disso, assim como muitos outros no mundo do futebol. O Ganso sentou comigo e falou: “Presidente, me libera, é o meu sonho. Se não me liberar, daqui a um ano e meio vou embora e o clube não pega um tostão”. Liberei e coloquei R$ 20 milhões no clube, um dinheiro necessário.
 
Under Armour
 
A Under Armour fez um contrato excepcional com o São Paulo. O dela com o Fluminense é de simples fornecimento de camisa. O nosso inclui royalties, tivemos R$ 10 milhões de adiantamento e mais R$ 5 milhões de luvas. Como os resultados não foram os desejados e o custo deles ficou muito alto, eles nos propuseram fazer algumas revisões no contrato. Não houve acordo quanto a isso, e chegou-se à conclusão de que seria melhor a rescisão, que foi ajustada com o pagamento por parte deles da multa integral. Mas como eles ainda desejam o São Paulo, o que de fundamental nós obtivemos foi a liberdade para prospectar o mercado em busca de um novo fornecedor. Eles ficam até o fim do ano, e têm a possibilidade de continuar conosco se até o final de outubro cobrirem uma eventual oferta que tivermos e pagarem mais 10%. Pode ser que saiam, pode ser que fiquem. Hoje a ideia é que saiam, com pagamento de multa. Mas o São Paulo poderá continuar usando a camisa deles até o meio do ano que vem, e eles poderão continuar vendendo nossas camisas também até o meio do ano que vem.