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Por que brasileiros sentiram enjoo após terremoto na Bolívia?

Prédio foi evacuado na avenida Paulista por suspeita de terremoto - Leonardo Martins/UOL
Prédio foi evacuado na avenida Paulista por suspeita de terremoto Imagem: Leonardo Martins/UOL

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

02/04/2018 14h31

O terremoto de magnitude 6.8 que chacoalhou a Bolívia nesta segunda-feira (2) chegou a balançar alguns edifícios em Brasília e na Avenida Paulista, em São Paulo. A surpresa do abalo foi ainda maior para aqueles que, além do tremor, sofreram com as tonturas e enjoo que vieram depois do susto.

“Sensação horrível, balançou legal na Paulista, todo prédio evacuado”, relatou pelo Twitter Adalberto Olegário, que trabalhava quando sentiu o abalo. “Tremor sentido também em Brasília, no Ministério da Justiça”, escreveu Matheus Tovksi na rede social.

É muito comum que algumas pessoas tenham acessos de tontura e enjoo algum tempo após o abalo. “Não é labirintite”, explicou o médico Márcio Salmito, da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial. Ainda assim, a culpa é do labirinto.

“Chamamos de orelha a parte externa do órgão. Do tímpano para dentro, é a orelha média. Dentro do osso temporal, temos o labirinto. Ele funciona como o acelerômetro giroscópio do celular. Aquele dispositivo que vira a foto de lado ao notar um movimento no aparelho.”

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O médico explica que os olhos também são um sensor humano que, em conflito com as sensações percebidas pelo labirinto, gera o mal-estar. “Se estamos em um trem e olhamos para o lado de fora, vemos a paisagem em movimento. O sensor labirinto funciona diferente. É ele quem nos informa que o trem saiu do lugar mesmo se estivermos de olhos fechados e ouvidos tampados.”  

Quando acontece um terremoto, é o labirinto quem avisa. O tato e as articulações também vão tremer e informar o cérebro. “Se nesse momento a gente sente o tremor, mas vê tudo parado ao redor, ocorre um conflito entre a visão e o labirinto, e a gente passa mal.” A sensação é temporária e costuma passar pouco tempo depois.

Em azul, o labirinto, região interna do ouvido responsável pela detecção de movimento - Vertigemetontura.com/Divulgação - Vertigemetontura.com/Divulgação
Em azul, o labirinto, região interna do ouvido responsável pela detecção de movimento
Imagem: Vertigemetontura.com/Divulgação
O mesmo acontece quando alguém olha o celular enquanto trafega por uma estrada sinuosa. “A visão diz que o celular está parado, mas o labirinto está sentindo o movimento do carro. Há um conflito que gera enjoo e tontura em algumas pessoas.”

Os 400 tremores que atingiram o Japão em março de 2011 --resultando no famoso tsunami daquele ano--, surpreenderam médicos japoneses, que apelidaram de "abalos fantasmas" os numerosos casos de cidadãos que permaneciam com tonturas e ânsia de vômito.

Como em um barco

De acordo com o médico, “o labirinto é a parte do corpo que sente o movimento do terremoto”. “É mais fácil sentir nas extremidades, mais longe do chão, como no alto de um prédio na Paulista. É como a sensação de quem está em um barco.”

Há quem sinta o mal-estar assim que acaba o abalo. Mas existe também quem o perceba depois. “É como aquela pessoa que sai do navio depois de um cruzeiro de uma semana e tem a sensação de que a terra está se mexendo.”

O fenômeno pode atingir qualquer pessoa, mas é especialmente comum em quem sofre com algum problema no labirinto. “O enjoo e desequilíbrio podem durar horas ou mesmo dias. Depende do grau do estímulo e do próprio indivíduo.”

Nesse caso, o vilão não é a labirintite, mas a cinetose. “É quem não pode viajar no banco de trás do carro e não sobe em roda gigante. Se estiver em um terremoto, essa pessoa vai sofrer mais. A sensação de minutos pode durar muito tempo.”