Sarkozy é detido pela polícia para depor sobre irregularidades de campanha

O ex-presidente francês é questionado sobre suposto financiamento da Líbia em 2007

O ex-presidente francês Nicolas Sarkozy durante discurso em que reconheceu derrota nas primárias republicanas
O ex-presidente francês Nicolas Sarkozy durante discurso em que reconheceu derrota nas primárias republicanas - Ian Langsdon - 20.nov.2016/Pool/AFP
Madri

O ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, 63, foi detido pela polícia na terça-feira (20) para interrogatório. As autoridades investigam a denúncia de que sua vitoriosa campanha eleitoral de 2007 foi financiada pela Líbia —à época, governada pelo ditador Muammar Gaddafi, morto nos protestos violentos de 2011.

Essa investigação está aberta desde 2013, no rastro das informações publicadas um ano antes pelo site Mediapart, que trazia um documento líbio apontando o financiamento ilegal. É a primeira vez que o ex-presidente conservador depõe sobre o caso, no entanto, e a história tem o potencial de ser um dos grandes escândalos políticos franceses destas décadas.

Segundo o jornal francês Le Monde, o ex-presidente foi mantido nas dependências da polícia judiciária em Nanterre, no oeste de Paris. Ele pode ficar detido por dois dias para o interrogatório, segundo a legislação francesa de "garde à vu", uma custódia policial. É possível que ele precise depor a um juiz antes de solto.

O governo francês descreve a custódia policial como "medida de privação de liberdade durante uma investigação judicial". Entre seus objetivos está a garantia da aparição do investigado diante da Justiça. Também se busca impedir, dependendo do caso, a destruição de evidências ou a coerção de testemunhas. O instrumento se parece, assim, com a prisão temporária brasileira, que tem duração máxima de cinco dias para os crimes comuns.

Sarkozy, que foi presidente de 2007 a 2012, diz que a denúncia é “grotesca”. Um de seus aliados próximos, Brice Hortefeux, um ex-ministro do Interior, também foi interrogado durante a terça-feira.

Há outras denúncias de financiamento ilegal de Sarkozy, desta vez em relação à campanha eleitoral 2012, quando foi derrotado pelo socialista François Hollande. A acumulação de denúncias é uma das razões pelas quais Sarkozy não venceu as primárias de seu partido, os Republicanos, para disputar o pleito de 2017.

Em novembro de 2016, durante aquelas primárias, surgiu uma das denúncias mais graves neste caso, com o depoimento do intermediário Ziad Takieddine—que afirmou ter transportado em maletas o equivalente a R$ 20 milhões em espécie de Trípoli, na Líbia, a Paris.

Mesmo desconsideradas as acusações de financiamento ilegal, os laços entre Sarkozy e Gaddafi são criticados há anos no país.

O conservador recebeu o ditador líbio em 2007 e posou para foto em um controverso aperto de mãos. Em 2011, porém, Sarkozy foi um dos entusiastas da campanha militar internacional que derrubou Gaddafi após 42 anos de mando -- e levou a sua morte.

O Le Monde sugere que a detenção desta terça-feira pode ser um indício de que a Justiça francesa tem novas provas sobre a denúncia, somadas às centenas de documentos e depoimentos. Pode ser, portanto, um episódio decisivo na carreira de Sarkozy.

Aliados conservadores, no entanto, pediram que a presunção de inocência seja respeitada, já que o ex-presidente não foi por ora acusado formalmente.

"Peço bastante prudência à imprensa", disse durante o dia a eurodeputada Nadine Morano, ex-ministra do governo Sarkozy. "Veremos se essa custódia policial foi justificável e que elementos aportará."

Em 2011, o ex-presidente Jacques Chirac foi condenado por uso irregular de fundos públicos, por ter empregado aliados políticos em vagas inexistentes.

Foi o primeiro chefe de Estado francês a ser condenado desde Philippe Pétain in 1945, ao fim da Segunda Guerra.

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