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Morre Marco Aurélio Garcia, ex-assessor da Presidência nos governos do PT

O ex-assessor da Presidência Marco Aurélio Garcia - Alan Marques - 18.out.2013/Folhapress
O ex-assessor da Presidência Marco Aurélio Garcia Imagem: Alan Marques - 18.out.2013/Folhapress

Do UOL, em São Paulo

20/07/2017 16h01Atualizada em 21/07/2017 18h46

Morreu nesta quinta-feira (20), aos 76 anos, Marco Aurélio Garcia, que foi assessor especial da Presidência da República nos mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos do PT. A informação foi confirmada pelo partido.

Segundo a "Folha de S.Paulo" e o site Opera Mundi, parceiro do UOL, Garcia faleceu em São Paulo em decorrência de um enfarto fulminante. Em 2013, ele já havia passado por uma cirurgia cardíaca.

Considerado próximo ao ex-presidente Lula, Marco Aurélio Garcia foi assessor especial da Presidência para assuntos internacionais em todos os mandatos do PT na Presidência. Garcia dividiu a formulação da política externa dos governos petistas com o Itamaraty, comandado por Celso Amorim. Era entusiasta da cooperação Sul-Sul, principalmente com países da América Latina, e dos Brics, o bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. 

A proximidade com governos latino-americanos de esquerda era assunto de críticas recorrentes à política externa do Brasil nos anos Lula e Dilma. Em entrevista à revista "Piauí" publicada em março de 2009, Garcia disse que a aproximação era produto da necessidade, e não da ideologia: "Essa é uma visão pragmática. Temos superávits comerciais com todos eles”, afirmou.

Garcia também rebatia as críticas às relações diplomáticas do Brasil com países questionados por seu histórico de atuação nos direitos humanos. Em 2010, disse que o Brasil não era condescendente com os governos de Cuba e Irã

Após o impeachment de Dilma, perdeu o cargo e foi grande crítico da política externa do governo de Michel Temer (PMDB). 

Em maio de 2016, menos de um mês após Dilma ser afastada do comando do país, disse que a possibilidade de fechamento de embaixadas abertas no Caribe e na África --que vinha sendo estudada pelo governo-- era "um absurdo extraordinário". A abertura destes postos diplomáticos foi uma das marcas da política externa dos governos do PT, principalmente nos mandatos de Lula.

Lula e Dilma lamentam morte

A ex-presidente Dilma lamentou a morte de Marco Aurélio, a quem chamou de "meu querido amigo".

"A morte do professor Marco Aurélio Garcia, meu amigo querido, é extremamente dolorosa. Desfrutei pela última vez de sua companhia há três semanas. Conversamos sobre a vida e os momentos terríveis que o país atravessa", escreveu a ex-presidente em nota oficial. "É muito duro saber que não terei mais sua companhia, nem o prazer de ouvir sua poderosa gargalhada".

"Hoje é um dia de dor para todos nós, que compartilhamos com ele seus muitos sonhos, histórias e lutas. Era um amigo querido, de humor fino e contagiante, sempre generoso e cheio de ideias, dono de uma mente arguta e brilhante", continuou Dilma. "Um dia terrível para quem luta por um mundo melhor, com justiça social. Um dia muito, muito triste".

Também em nota, o Instituto Lula classificou Marco Aurélio como "um intelectual brilhante e um militante incansável". O texto destacou o trabalho do político como entusiasta pela integração da América Latina.

"Foi interlocutor assíduo e qualificado das diversas forças democráticas do continente. A credibilidade política e pessoal por ele alcançada permitiu que Marco Aurélio Garcia desempenhasse, em sintonia com o Itamaraty, relevante papel na construção e execução de uma nova política externa, ativa e altiva, soberana e fraterna, com um legado que é reconhecido internacionalmente e hoje faz falta para o Brasil", destacou o Instituto.

Acidente e polêmica

Garcia ficou bastante conhecido do grande público em 2007, quando foi flagrado em vídeo fazendo um gesto obsceno após reportagem do "Jornal Nacional", da TV Globo, que noticiava defeito técnico no avião do voo 3054 da TAM que caiu no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Depois, Garcia pediu desculpas.

Na época, o governo enfrentava uma crise devido ao chamado "caos aéreo", com protestos de controladores de voo contra as condições em que trabalhavam. O movimento veio após o acidente com o avião do voo 1907 da Gol, ocorrido em setembro do ano anterior, que deixou 154 mortos. 

O acidente com o voo 3054 da TAM completou dez anos no último dia 17 e deixou 199 mortos. Foi a maior tragédia da aviação comercial brasileira. 

Amigos de Garcia, políticos e militantes lamentaram o falecimento em publicações em redes sociais. Entre os nomes que se manifestaram estão o ex-ministro e ex-governador gaúcho Tarso Genro (PT) e os deputados federais Maria do Rosário (PT-RS), Paulo Teixeira (PT-SP), José Guimarães (PT-CE) e Roberto Requião (PMDB-PR).

Em nota, o senador Jorge Viana (PT-AC) afirmou que Marco Aurélio "era um  intelectual e militante apaixonado pela política, um perseverante sonhador que lutou pela justiça social desde a juventude".

"Sempre foi uma referência dentro do PT e um gigante no campo das ideias. Um democrata respeitado  em todo o mundo. Ele sempre foi um homem do diálogo, defensor intransigente de um mundo e um Brasil mais justo. Foi um privilégio ter convivido com ele. É muito triste para todos nós, do PT, esta quinta-feira. Lamento muito a sua morte", completou.

Marco Aurélio também era professor aposentado do Departamento de História da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Ele deixa um filho.