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Michel Temer perde apoio e pressão pela renúncia aumenta

Raymond Colitt

22/05/2017 11h38

(Bloomberg) -- Apesar da baixa popularidade, o presidente Michel Temer se manteve no cargo por mais de um ano após o impeachment de Dilma Rousseff graças, sobretudo, ao apoio do Congresso e dos mercados financeiros. Mas após novas acusações de corrupção, esse apoio está ruindo.

As tentativas de Temer de desacreditar as acusações que surgiram contra ele na semana passada não convenceram muita gente. O PSB deixou o governo e se juntou aos partidos de oposição que defendem a renúncia.

A Ordem dos Advogados do Brasil votou a favor do início de um processo de impeachment.

Segundo Carlos Siqueira, presidente nacional do PSB, que era um dos maiores partidos na coalizão formada por Temer, o presidente deve renunciar porque já não tem condições políticas, morais, éticas e administrativas para continuar.

Outros partidos da base aliada ? que se uniram a Temer apostando que as reformas propostas por ele acabariam com a pior recessão da história do País até as eleições do ano que vem ? agora olham para o judiciário e para as ruas para tentar decidir se abandonam ou não o barco.

"Vamos esperar um posicionamento do Supremo Tribunal Federal antes de tomar qualquer decisão", disse o presidente do DEM, José Agripino Maia.

Prova adulterada?

No sábado, Temer pediu que o STF suspenda o inquérito de corrupção e obstrução de Justiça aberto contra ele, argumentando que a gravação usada como prova pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, havia sido editada. Temer descreveu seu interlocutor na conversa, o presidente do conselho da JBS, Joesley Batista, como alguém descontente com a decisão do governo dele de fechar as torneiras das contas públicas.

A existência da gravação e trechos da mesma foram relatados pelo jornal O Globo na noite de 17 de maio, abalando o País e causando acentuada desvalorização dos ativos brasileiros no dia seguinte. Os mercados se recuperaram em 19 de maio, quando a gravação inteira foi disponibilizada e muitos consideraram o conteúdo inconclusivo.

Embora Temer negue acusações de que deu aval para compra de silêncio, a OAB ressalta mais evidências de má conduta: não denunciar atividades criminosas, quebra de decoro e promessa de favores impróprios. A OAB informou no domingo que vai protocolar o pedido de impeachment na Câmara de Deputados nos próximos dias.

A assessoria de imprensa de Temer não respondeu à solicitação de comentário para esta reportagem.

Segundo impeachment

"Estamos a pedir o impeachment de outro presidente da República, o segundo em uma gestão de 1 ano e 4 meses", afirmou o presidente da OAB, Claudio Lamachia, em comunicado publicado no website da entidade.

Na tarde de domingo, dezenas de milhares de pessoas protestaram em diversas cidades, exigindo a renúncia de Temer.

A consultoria de risco Eurasia calcula em 70 por cento a probabilidade de Temer não concluir o mandato e afirma que o melhor desfecho para o futuro das reformas seria uma queda rápida do presidente por meio de uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral.

"Apesar da recente tentativa do presidente de contra-atacar, os últimos eventos sugerem fortemente que as forças políticas contra Temer continuarão aumentando no Congresso, nos tribunais e nas ruas, fazendo com que ele fique virtualmente incapaz de governar", afirmou o diretor da consultoria, João Augusto Castro Neves, em relatório a clientes.

Mesmo antes dos reveses sofridos por Temer no fim de semana, os investidores já estavam menos entusiasmados em relação ao presidente de 76 anos, que, em abril, já enfrentava taxa de aprovação na casa de um dígito.

A chance de o governo conseguir aprovar até outubro a reforma da Previdência, necessária para sanar as contas públicas, caiu para não mais do que 5 por cento, pelos cálculos de Renato Nobile, presidente da Bullmark Financial Group.

Modo de sobrevivência

"O objetivo do governo é concentrar forças para sobreviver", disse Nobile.

Ele acrescentou que a única pessoa que poderia substituir Temer e garantir algum nível de continuidade seria o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, arquiteto do plano de austeridade fiscal, que fez carreira no setor bancário internacional.

O risco de uma longa batalha política que se arraste por meses desanima muitos investidores. O impeachment de Dilma demorou mais de 8 meses. Uma eventual decisão do TSE de anular o resultado das eleições de 2014 também poderia levar meses e seria passível de recurso.

"O melhor cenário seria a renúncia, com ele indo à TV e acabando com isso o mais cedo possível", disse o analista político Alexandre Bandeira, da Strattegia Consultoria.